Bianca Santana
ISBN: 978-85-8205-656-1
Ano: 2015
Páginas: 96
Editora: SESI-SP editora
Ilustrador: Mateu Velascos
Preço: R$ 20,00 a R$ 40,00
Preço: R$ 20,00 a R$ 40,00
Perambulando pela Bienal
recebo a seguinte dica de leitura: Quando me descobri negra, e inicialmente
impactei-me com o título, a simples apreciação
de cada página me fez querê-lo por todo o sempre e imediatamente brotou em meu
coração o desejo de que a mim tivesse sido apresentado na infância e na adolescência.
Bianca Santana,
professora, jornalista e militante feminista nos oportuniza ouvirmos 29
relatos, inclusive dela, do que Neuza Santos Souza chama de Tornar-se negro.
São palavras que nos fazem rever nosso próprio passado, nossas próprias
memorias e a de outros atores que instantaneamente são tomadas como nossas
também.
Nossa identidade negra é
diariamente violentada e silenciadas, a nós a todo o momento é negado o direito
de sermos quem realmente somos. Alguns relatos nos provocam a pensar, “em casa
não sou negra, nem na escola ou com meus amigos brancos, mas olho para o
espelho e vejo meu cabelo NEGRO, meus lábios NEGRO, meu nariz NEGRO, minha pele
NEGRA, mas negra não sou?”, são conflitos que nos machucam, uma ferida que
nunca cicatriza. E esse misto de provocações, de releituras das nossas próprias
memórias nos causam tristeza, euforia, mas acima de tudo liberdade. A
libertação de nos descobrirmos por completo, de deslevarmos a nós mesmos, isso
não tem preço e nem tempo.
São relatos de situações
de preconceito, discriminação e racismo, são agradecimentos por pequenas libertações,
libertação da amara que nos renega o lugar de subalternos, que nos modelam a
sermos outros de cabelos alisados e nariz afilado, que concedem a negra o papel
sexualmente ativo, e que tem que provar constantemente ser a melhor, em tudo
para conseguir se destacar “apesar da negritude”.
O livro está dividido em
três partes: Do que vivi, do que ouvi e do que pari.
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Bianca Santana, Autora. |
Bianca Santana diz ter 30
anos, mas ser negra a apenas 10, e se descobriu negra quando se defrontou com
sua própria história a de seus ancestrais. Os momentos de cada uma das
narrativas contidas na segunda parte do livro também se alteram, não existe
idade especifica ou lugar para tornar-se negro, mas o diálogo o confronto são possíveis
e não tão fáceis caminhos a percorrer.
As ilustrações são um deleite a parte,
Mateu Velasco consegue capturar a essência das palavras na pequena paleta de
cores branca, preta e laranja.
Destaco ainda que esta leitura não é
obrigatória apenas para nós negros/as, mas para toda as etnias e raças, pois
provoca a pensar se um dia você já vivenciou ou reproduziu situações
preconceituosas e racistas e permite assim, pensar para não mais fazê-las.
Convido de corpo, cor e alma para que
desfrute dessa leitura encantadora, que alerto, remexe o seu coração, faz
parecer que alguns ciscos caíram acidentalmente em seus olhos, risco de roer
unha e remoer dores, mas acima de tudo, tem uma grande chance de fazer você se
orgulhar por chegar o dia em que finalmente se descobriu NEGRO/AS.